(O doutrinador do centro espírita conversa com o espírito)
Aqui está mais um dinâmico e inteligente companheiro, inteiramente devotado à inglória tarefa de combater sem tréguas a doutrina de Jesus e procurar neutralizar, desviar ou conquistar com apurada técnica de envolvimento trabalhadores encarnados em atuação na seara espírita. Excelente argumentador, dono de grande experiência no trato com os homens e de conhecimentos filosóficos e teológicos, debateu longamente com o doutrinador as suas idéias, procurando, primeiro, a adesão deste, em seguida, a sua neutralidade e, por fim, declarando-lhe hostilidade aberta, com a safra habitual de ameaças.
Essa primeira parte do diálogo é ignorada aqui, por óbvios motivos de natural reserva. Era preciso, porém, ir buscar na sua memória integral as razões profundas do seu antagonismo ao Cristo. No processo da regressão por meio do magnetismo, foi difícil alcançar o estado de indução adequado, porque, sendo ele também conhecedor das técnicas empregadas e alertado previamente quanto às resistências conscientes que deveria opor, exigiu prolongado esforço de nossos Benfeitores Espirituais e do magnetizador.
Ao atingir, porém, a primeira etapa do processo regressivo, recaiu numa existência mais recente — supomos que no século 19 —, na França, onde viveu um doloroso episódio familiar, mas que não parecia ser — como não era — a causa do seu problema pessoal com Jesus. Esse episódio se posicionava, contudo, como mais uma pedra de tropeço no caminho de retorno ao passado que ele tinha que percorrer para chegarmos às raízes do seu desajuste maior. Deixamo-lo, pois, narrar o fato e demos prosseguimento à regressão.
Novamente ele se detém num episódio mais ou menos relevante, numa existência em Nápoles, na Itália, onde parece ter ocupado posição de certo relevo na Igreja, fascinado pelas riquezas da poderosa organização político-religiosa. Mas, o núcleo mais denso e doloroso do seu desatino não era ainda esse. Prosseguiu a regressão até que chegamos lá...
Vejamos primeiro a tragédia vivida por este pobre irmão atormentado, em Lisieux, na França, no século XIX. O diálogo é reproduzido a partir do ponto em que certos nomes começam a assomar à sua consciência. Ele ainda esboça uma reação, mas acaba cedendo ao curso inexorável das lembranças, por mais dolorosas que lhe sejam.
— Não adianta... Não adianta ficar colocando nomes na minha mente. Nomes nada significam.
— Quais são esses nomes?
— Não adianta. Você é ridículo. (E depois de uma pausa:) Lisieux...
— Que está você fazendo aí?
— Estou procurando Annette. É minha filha. Annette...
— O que houve com ela? Por que você a está procurando? Quantos anos ela tem?
— Quinze.
Como sempre, são difíceis os primeiros instantes da regressão. O Espírito ainda reluta, hesita e resiste. Procura fugir às lembranças, respondendo que não sabe ou não se lembra. O doutrinador precisa ser paciente, insistir com tato, descobrir novas colocações para certas perguntas críticas. Pouco a pouco, no entanto, a história começa a desdobrar-se.
— O que aconteceu com Annette? Por que ela deixou você? Ela foi para um convento?
— Sim.
— Por quê? Você não queria que ela fosse?
— Não.
— Por quê? Você não é católico?
— Não. Não creio nos padres, não creio em nada. Só creio no dinheiro. O dinheiro pode comprar...
— Que época é essa em que você está? Que ano?
— Não sei.
— Como é que não sabe? Se você diz que ela tem quinze anos... Quando ela nasceu? Então você não sabe quando sua filha nasceu?
— Annette precisa casar-se. Arranjei para ela um marido. Um marido rico. Preciso salvar minha honra. Preciso repor um dinheiro.
— O que foi que você fez então, que está faltando esse dinheiro? Tirou de alguém?
— Tirei. Preciso que ela se case, senão é a vergonha e a desonra. E vou perder os meus bens.
O doutrinador leva-o um pouco mais à frente, no tempo, a fim de verificar o que se passou. O Espírito começa a contar a história com maior desembaraço:
— Busquei Annette. Ela não pode tomar decisões sozinha. É menor. Eu a obriguei a casar-se. (A confissão é, evidentemente, muito penosa e sai aos poucos, com enorme dificuldade). Ela estava linda! Ela não queria, porque amava outra criatura. Um pobretão!... Não quero ver isto! Vê como ela está linda? Em seu vestido de noiva há rendas que mandei vir de Paris. Tem uma coroa que o noivo lhe deu para colocar na cabeça e prender os cabelos. Linda! Linda! E eu a conduzo, orgulhoso, mas, quem podia prever? Era uma menina... Escondeu um punhal e quando todos estavam felizes e quando se ia celebrar (o ritual do casamento), ela o enterrou fundo no próprio peito. Linda que estava!
— E você sentiu muito a morte dela, não é verdade? E viu que o dinheiro não tinha mais importância...
— Eu me senti o assassino.
— E como terminou essa existência para você? Alguns anos mais tarde?
— Eu... Foi tudo inútil. Fui ao meu superior e lhe confessei o meu crime e confessei a minha desgraça e ele perdoou-me toda a dívida. Fui para casa, coberto de remorsos. Em todo lugar eu a via. Ora a via linda, toda branca, ora a via linda, com o branco manchado de vermelho. Não pude suportar. Eu me revoltei contra tudo e matei-me...
— Olha aqui, meu filho. Compreendi perfeitamente esse drama tão doloroso...
— Se é verdade que existia um Deus, um Jesus, não poderia ter permitido tal tragédia. Onde estava Ele que não lhe susteve a mão naquele momento? Onde estava Ele?
— Escute uma coisa. Preste atenção no que vou dizer. Muita atenção. Vamos agora mais atrás, no passado, para buscar as razões do seu problema religioso. Por que essa luta contra Deus e contra o Cristo?
O doutrinador insiste mansamente na indução, levando-o com paciência às suas esquecidas memórias. Em certo ponto, ele tem um sobressalto. Paramos ali.
— Onde você está, no momento?
— Onde estou? Onde estou?
Por força do magnetismo, ele se acha fora do tempo, em busca de si mesmo e da sua localização temporal e geográfica. Por fim diz:
— Napoli...
É um prelado. O doutrinador sente que ainda não é ali o núcleo principal, mas convém deixá-lo falar, para saber das razões pelas quais parou naquele “ponto”.
— Vejo ouro — diz ele. Este ouro todo me fascina... Essas igrejas cheias de ouro... E os fiéis me trazem... Está tudo confuso... confuso...
— Sim, meu caro. Perdoa, mas não é ainda aí o problema que você enfrenta. Está mais atrás, vamos buscá-lo, por favor.
Prossegue a regressão no tempo, enquanto ele se queixa de que está confuso.
Segue-se uma longa pausa. Ele geme e parece hesitar em mergulhar nas profundidades do seu drama íntimo.
— Tire-me daqui! — diz ele. Tire-me desta confusão. Não consigo pensar. Você está fazendo uma pressão terrível na minha mente. Minha mente foi preparada para resistir.
O doutrinador trata-o com carinhosa firmeza, estimulando-o a prosseguir, enquanto ele insiste em dizer que não tem problemas. Finalmente, começa a surgir a história:
— Onde está Lídia? pergunta ele. Lídia!
— Por que você está procurando por Lídia?
— É minha mulher.
— Sim, mas o que houve com ela?
— Está doente.
— Ela saiu?
— Foram levá-la a um lugar. (E em voz enérgica:) Mas eu não permiti!... Como ela saiu sem a minha permissão? Ora, são todos uns porcos sujos... místicos. Se ela fosse à Sinagoga para purificar-se, ela também se teria curado. Ela precisava purificar-se.
— Já entendi. Então o Cristo curou a sua Lídia...
É. Ela estava impura. Sabe o que é uma mulher impura? (Hemorragia) E meses e meses impura. Nada a curava, mas ela não quis ir ao templo purificar-se. Devia ter ido.
— Sim, meu querido. Já entendi. Mas como ela se curou?
— Foi lá, não sei onde, com um desconhecido charlatão.
— E o que aconteceu?
— Bem. Ele curou-a.
— E como foi a cura?
— Ela disse que Ele a olhou.. . Como foi a cura? Não sei...
— Como Ele fez? Ele a tocou?
— Não sei. Eu não quis saber.
— O certo é que ela curou-se. Ela tocou nas vestes dele?
— Ela curou-se. É possível. Ela é tão mística. Curou-se de um mal, mas foi acometida de outro. Curou-se de um mal físico, mas foi acometida de uma loucura. Seu espírito foi tomado, foi aprisionado. Ele aprisionou o seu espírito.
— O que você fez?
— Fui ao Templo e falei. Então eles disseram que ela deveria sacrificar quatro pombas, cobrir-se por sete dias e pronunciar seus votos neste Templo. Ela não quis. Então, eles me disseram... Você sabe como é que se tira um demônio? Com um chicote. Eu fiz. Ainda vejo os vergões em seu corpo...
— E você expulsou aqueles demônios?
— Não. Eu lhe bati. Ela e minha filha eram tudo o que eu tinha. Mas eu não fui cruel com ela; queria libertá-la do encanto daquele Nazareno enlouquecido que se apossou do seu espírito. Foi Ele que aprisionou o seu espírito. Mas, não ficou aí. Eu lhe bati para expulsar o demônio e ela não deu um grito sequer. E a nossa filha me viu, ajoelhou-se e pediu por todos os profetas da Lei que eu perdoasse sua mãe. Eu as amava muito!
— Você não as amava; você continua amando-as. Elas não deixaram de existir.
— Mas cometi um engano terrível, porque a perdoei. Não expulsei os demônios. Não terminei. (Quer dizer, atendendo ao apelo da filha, interrompeu o espancamento e não concluiu a expulsão dos ”demônios”, o que, a seu ver, foi um engano terrível). E sabe o que aconteceu? Ela foi procurá-los, àquela gente... E um dia, quando voltei à casa, encontrei tudo vazio. Nem mulher, nem filha, nem lar. E não levaram nada! Só a roupa do corpo. Deixaram os vestidos e as jóias e as sandálias. Voltei ao Templo e falei aos sacerdotes e eles puseram batedores (chora), mas não as encontramos. E tinha passado aquele terrível dia em que tudo escureceu de repente (a crucificação). Eu não compreendia nada.
— E você compreendeu depois a grandeza dAquele espírito que ali esteve ao lado de vocês?
— Ele roubou minha filha. Enlouqueceu minha mulher. O Rei de Israel não morreria numa cruz ignominiosa, coroado de espinhos. O Rei de Israel não me desmantelaria o lar.
— Ele não veio disputar tronos. E não foi Ele que fez isso. Por que você não foi com elas, então?
— Devo fidelidade à Lei (de Moisés).
— E o que aconteceu com Lídia depois, no mundo espiritual, onde vocês todos se
recolheram, após terminada a vida na carne? Você tomou a vê-la?
— Lídia? Eu a vi uma vez, muito longe. Ela estava linda! E eu perguntei se ela havia recuperado o seu espírito, expulsado os demônios. Ela respondeu que os demônios tinham ficado lá em casa: eram a maldade, a ignorância, as jóias, os vestidos...
— Pois é, meu querido. Tantos séculos sofrendo, afastado daqueles a quem você amou, por uma questão de vaidade? de orgulho? Ou, como ela disse, de ignorância?
— Eu a chamei para voltar para mim. Ela me disse que era preciso que eu me levantasse primeiro. (E em voz alta e enérgica:) E eu me levantei! E não adiantou nada...
— Mas ela não quis dizer levantar-se em posições entre os homens. Ela disse levantar-se espiritualmente. Ela não pediu a você que conquistasse tronos.
— Se ela me amasse não teria ido para “Ele”.
— Ela não deixou de amar você por ter também amado a Ele. É por isso que você O odeia?
— Ele roubou tantas mulheres, destruiu tantos lares! Fez com que tantos O amassem. Que tinha Ele?
— Tinha, não; tem até hoje.
— Que tinha Ele que assim arrebatava?
— Bem. Vamos, então, parar aqui. Agora é preciso que você entenda que já é tempo suficiente para parar de sofrer essas ilusões, o afastamento daqueles seres que o amam e que estão aguardando você. Abandone essas idéias de que Ele roubou, de que Ele traiu, de que Ele desfez o seu lar. Pensa em que Ele atraiu para si Espíritos que estavam preparados para receber a Sua mensagem, enquanto você não estava e continua a recusar a mensagem do amor.
— Eu lutei contra todos eles. Engajei-me no exército do Templo, que deveria persegui-los e os persegui, os ajudei, vi apedrejar muitos deles em praça pública.
— E isso satisfez o seu orgulho, a sua vaidade? Aplacou a sua dor? Pelo contrário, afastou você cada vez mais daqueles seres a quem até hoje busca.
— Agora que você me diz isso, às vezes, quando eu chicoteava um deles, parecia-me estar chicoteando a Lídia. E continuo sem ela. É tudo tão inútil, assim, na vida...
— Você gostaria de reencontrar-se com ela?
— Lídia é um anjo! Ela estava vestida com um vestido brilhante! E coroada com uma luz estranha...
— E você? O que pretende fazer agora?
— Agora? Agora... não sei. Você me tirou... Você fez como um agricultor que poda uma árvore. Você me tirou todos os galhos, os frutos, cortou-me todo, deixou-me um tronco nu e vazio.
— Sim, meu querido. A poda é necessária para que a árvore volte a produzir novas folhas e novos frutos. Aqueles que você trazia eram frutos amargos de desenganos, de aflições, de ilusões. Agora é uma nova vida, uma nova experiência, um novo ponto de partida para você. Fica conosco. Vem com os nossos companheiros.
— E tudo que fiz até hoje? Meu trabalho...
— Seu trabalho foi um trabalho inglório, de mentira, de ódios. Não é assim que você chegará à Lídia, meu querido. Não é por esse caminho. Não é por aí que vamos a Deus também. Não é assim que vamos reencontrar o Cristo.
— Nunca consegui golpeá-lo. Agora reconheço isso. Estranho, não é? Parece que andei dando golpes no ar!
— Mas Ele não tem nada contra você. Todos esses séculos esteve à sua espera. Permita-nos que agora, neste momento...
— Quem era esse Cristo estranho, que a todos atraía? Que ainda atrai a todos?
— A você também Ele atrai. Você também vai com Ele.
— É uma força como um centro de gravidade que atrai tudo a si...
— Você também. Não O tema. Ele o ama tanto quanto a mim, quanto a todos nós, quanto à Lídia, mas é preciso que você faça um esforço para entendê-lo...
— Tenho medo de queimar-me no seu fogo celeste.
— Isso não vai acontecer. Tenha paciência, tenha coragem. Lá estarão também a sua Lídia, a sua filha, para que você possa recomeçar em novas bases, compreendendo melhor o seu próprio espírito, perdoar aos seus próprios desenganos. Está bem? Concorda? Quer fazer a experiência?
— Tenho medo. Há noites em que tenho pesadelos. Vejo um chicote colado à minha mão. Faço tudo para soltá-lo e não consigo.
— É a sua consciência que reclama o reparo.
— Às vezes meu próprio braço se transforma num chicote. E é estranho... Que faço com este vazio imenso? Não vejo estrada à minha frente. Que fiz eu? Que fiz eu, meu Deus? Onde estou, meu Deus? Para onde vou? Para onde? Quem me recebe? Em que porta vou bater? Não tenho um amigo. Onde vou bater? (Chora).
— Escute. Você tem amigos. Aqueles mesmos companheiros a quem você não entendeu naquela época, estão aqui agora para o receber. Você tem a porta do Cristo, a porta do amor. Vem conosco. Confia em nós. Tem paciência. Este momento é difícil, mas depois você vai entender.
— Sou um mendigo. Sem lar, sem teto, sem amigos... Parece que, de repente, acordei de um pesadelo em que perdi tudo. Não tenho mais nada.
— Não é verdade isto. Você tem os amigos que não compreendeu naquela ocasião. Você tem o Cristo. Tem a sua Lídia. Não é verdade?
— Sim, mas não atraí a ira divina contra mim?
— Não. Deus é um Deus de perdão. É preciso que você também perdoe as suas próprias faltas para transformar esse arrependimento numa força construtiva, de forma a não ficar paralisado por mais de dezoito ou dezenove séculos. Não é isso?
— Eu me sentia tão limpo e, no entanto, veja como estou! Veja como estou: estas crostas escuras, essas escamas no meu corpo... Estou impuro, estou sujo! Quem me tira o demônio?
— Não existe demônio algum, meu querido. O demônio são as nossas próprias angústias, nossos erros... Você me aceita como amigo? Pelo menos até que você chegue aos seus outros amigos? Confia em mim?
— Sim. Preciso de alguém que me ajude. Estou aturdido, confuso, sozinho...
— Sozinho, não. Você não está sozinho. Estamos aqui com você. Você encontrará outros companheiros e certamente a nossa Lídia virá também para te ver.
— Ó meu Deus! me ajuda...
Aí temos, pois, a dolorosa tragédia de uma incompreensão que se agrava, que se complica, que se alastra e que enceguece o espírito pelo largo espaço de quase dois mil anos. Muito preso às estruturas da Lei de Moisés, nosso querido companheiro não conseguiu superar seus preconceitos, se não para aceitar ou seguir o Cristo, pelo menos para tolerar que a esposa, que Jesus curou, O amasse e lhe mostrasse sua gratidão, servindo à Sua causa. Esta é a primeira incompreensão, à qual inúmeras outras se seguiriam. Achou ele que Jesus
apenas trocara uma doença por outra, curando-a do mal físico para transformá-la numa doente mental. Tratava-se, portanto, de um caso de possessão e o método para expulsar os supostos demônios era o espancamento cruel, tudo segundo as instruções emanadas dos sacerdotes da época. Ele, porém, comoveu-se ante o apelo da filha, no que, a seu ver, cometeu terrível engano, porque, ao interromper o bárbaro ritual da flagelação, achou que os demônios continuaram nela e acabaram arrastando-a e mais a filha para a comunidade daqueles que eram considerados os párias da época: os cristãos!
Concluiu, pois, que o Cristo havia roubado os dois entes que mais amava e, portanto, havia desfeito o seu lar. Daí em diante, todas as suas forças foram colocadas a serviço do ódio, da vingança, na qual procurou inutilmente, através dos séculos seguintes, atingir aquele
Nazareno que ele não entendeu. Que tinha o Cristo, que todos O amavam? Quando Lídia, em espírito, lhe disse que o reencontro deles somente seria possível quando ele se levantasse daquele abismo de rancores, ele entendeu, novamente errado, que ela exigia que ele se tornasse grande. Saiu, pois, em busca da grandeza, em termos humanos, essa grandeza tola e efêmera, que o dinheiro abundante e as posições de destaque proporcionam. A tentação do poder atormentou-o desde então, seja ao contemplar o ouro da Igreja, dentro da qual passou a militar, seja ao lançar mão de dinheiro alheio, como em Lisieux, na França, onde sacrificou a filha de quinze anos e acabou cortando o fio da própria existência terrena.
De volta ao mundo espiritual, retomou, mais atormentado do que nunca e mais longe que nunca de seus verdadeiros amores, a nefanda tarefa de combater o Cristo, a doutrina de Jesus e Seus seguidores. Talvez sonhasse loucamente em ser tão grande quanto Jesus para que sua Lídia o aceitasse novamente. Vê-se, pois, nessa tormenta de paixões desatreladas, o fio luminoso de um amor que persiste e que resiste até ao desespero mais terrível. Até que um dia é aquele despertar de um pesadelo que durou milênios. Sente-se impuro, batido, abandonado, sem horizonte, confuso, aturdido.
É a hora da verdade. É o momento em que a gente pára, contempla o passado, reorganiza o pensamento e estende o olhar pela linha do horizonte, até onde é possível perscrutar o futuro com os olhos da esperança. Ele ainda não pode ver muito, mas seu coração começa a perceber que o futuro é Lídia, é o Cristo, é Deus, é a paz...
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