ARJUNA: (a alma perguntando)
- Explica-me, ó Mestre, quais as características de um homem que tenha atingido perfeita sabedoria por experiência espiritual absoluta?; como fala um homem auto-realizado? Como é que ele vive e age?
KRISHNA: (o Santo Cristo Pessoal respondendo)
- Quando o homem é perfeitamente liberto de todos os desejos do ego finito e alcançou a paz da alma pela realização do Eu Divino, então, é um homem de perfeita Sabedoria.
Quando alguém permanece calmo e sereno no meio do sofrimento, quando não espera receber do mundo objetivo permanente felicidade e quando se torna livre de apego, medo e ódio – então é ele um homem de perfeita Sabedoria.
Quando não é apegado a um e indiferente a outro; enquanto não se alegra em excesso com o que é agradável, nem se entristece excessivamente com o que é desagradável – então é ele um homem de perfeita Sabedoria.
Quando o yogui é capaz de retrair totalmente os seus sentidos dos objetos sensoriais, assim como a tartaruga retrai para dentro de si os seus membros – então está firmemente estabelecido na Sabedoria.
Pela prática da abstenção pode alguém amortecer os seus sentidos e torná-los insensíveis aos prazeres sensitivos; mas não torna necessariamente insensível aos desejos dos mesmos, o desejo dos prazeres sensitivos cessa somente quando o homem entra em contato com o Espírito Supremo dentro dele.
Ó Arjuna! Os sentidos descontrolados arrebatam com violência a mente, até do homem sábio em determinada perfeição, se não tiver a devida compreensão.
Por isso o yogui domina os seus sentidos, dirigindo-os a mim e assim se torna ele firmemente estabelecido em mim, o Ser Supremo.
O homem que tem perfeito domínio sobre os seus sentidos é um sábio.
Quem pensa sempre em objetos sensoriais apega-se a eles; desse apego nasce o prazer e o prazer gera inquietação.
A inquietação produz a ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação; e, uma vez destruída a discriminação, esquece-se o homem da sua natureza espiritual – e com isto vai rumo ao abismo.
Mas o homem que possui autodomínio sobre o mundo dos sentidos e da mente, sem odiar nada nem se apegar a nada, orientado pelo Eu Central, este encontra a paz.
Essa paz neutraliza todas as inquietações e o homem que goza de paz, goza de verdadeira beatitude – e acaba por superar também os males externos.
É impossível a aquisição de Sabedoria pela mente descontrolada; impossível a meditação para o homem inquieto! E se o homem não encontrar a paz dentro de si, como pode ser feliz?
O homem sem o domínio sobre a sua mente e seus sentidos é como um navio levado à mercê das ondas.
O homem de perfeita Sabedoria é aquele que possui perfeito domínio sobre seus sentidos com relação aos objetos sensoriais.
Onde, para outros reina a escuridão, lá ele enxerga a claridade; e onde o profano fala em dia cheio de luz, lá o aspirante espiritual não vê senão a noite tenebrosa da ignorância.
Todos os rios deságuam no oceano, mas o oceano não transborda e em suas profundezas reina imperturbável tranquilidade – assim é o homem iluminado pelo conhecimento de si mesmo: de todas as partes o invadem as impressões dos sentidos – e submergem todas no seu "Eu" imóvel e imperturbável.
Livre de todos os desejos, é o homem senhor, e não servo, dos prazeres; livre de propriedade, une-se ele com o "Todo" e encontra a Paz Verdadeira. Isto se chama viver na consciência de Brahman.
Quem atingiu esse estado, nunca mais pode recair na ilusão antiga; e, vivendo nesse estado de consciência, o yogui alcança, finalmente, libertação absoluta na experiência de sua união com Brahman (nirvana).”
Trechos do livro “BHAGAVAD GITA - versos 54 a 72.
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